Por: Gabriela Techio | Consultora de Carreira –
Ao me propor a falar sobre carreira feminina me deparei com a contrariedade de abordar ao mesmo tempo a presença e a ausência das mulheres no mercado de trabalho. A experiência delas nesse espaço é, assim, marcada por avanços e retrocessos, conquistas e barreiras.
É fato que a participação das mulheres no mercado de trabalho cresceu nas últimas décadas do século XX, bem como aumentou a possibilidade de estudar e escolher uma profissão. Entretanto, é importante ressaltar que a mulher sempre esteve presente nessa esfera, variando a sua presença de acordo com a posição social ocupada e com o período histórico no qual vivia. Isto nos leva a noção de que mulher não é uma categoria única de análise, por isso é fundamental falar em mulheres – no plural – com todas as suas semelhanças e particularidades no que diz respeito a sua vida pessoal e profissional.
Quando olho ao meu redor encontro mulheres com as mais diferentes experiências: há aquela que investe todo seu tempo e energia na carreira, ou aquela que prefere abdicar de um trabalho com maior carga horária para se dedicar a um hobby ou a família, ou, ainda, me deparo com aquela que decide que vai combinar seus múltiplos papeis porque é assim que encontra sentido na vida. Existe também a que está buscando sentido no que faz e está próxima de encontrá-lo e outra que ainda não teve tempo ou oportunidade para pensar nisso. Na gestão dos papeis ocupados diariamente, tal como filha, irmã, cônjuge, cidadã e trabalhadora, as mulheres vão manejando o que é importante para si e o que a sociedade espera delas.
Se por um lado há a singularidade, de outro há uma realidade que é comum às mulheres: a dificuldade de inserção e manutenção no mercado de trabalho. Essa problemática envolve entre tantas barreiras a desigualdade salarial quando comparada aos seus colegas homens, a dificuldade de assumir cargos executivos, as restrições explícitas ou veladas em algumas áreas de atuação reconhecidas por serem masculinas e a desvalorização das profissões consideradas femininas. Sem esquecer do fenômeno da dupla jornada e das violências que podem sofrer no ambiente de trabalho. Tudo isso sem que o assunto em pauta seja a competência.
Assim, a mulher tem participado cada vez mais do mercado de trabalho, mas sua presença é ainda limitada, não só em números, mas em possibilidades. Há muito ainda a ser conquistado, e para isso é preciso que as mulheres possam olhar para o que realmente faz sentido para si. É preciso liberdade para refletir sobre os reais motivos de suas escolhas e que, sem pressão ou receita, seja possível se posicionar profissionalmente com base no seu propósito, valores e interesses.
Eu sei que isso não é tão simples, pois elas estão inseridas em um contexto social que é marcado por preconceitos. Mas que essa realidade não as intimide, e que suas decisões sejam tomadas a partir de um grande leque de opções de trabalho e de vida. O objetivo é que cada vez mais possamos encontrar mulheres nos tribunais, nos hospitais, na área científica, na bolsa de valores e onde mais elas quiserem estar, podendo decidir se fica de vez ou se parte para outra experiência que expresse suas vontades.
Se as possibilidades de ser mulher são múltiplas, suas necessidades também são. É importante seu protagonismo, mas que nessa caminhada ela conte com o respeito daqueles que estão ao seu lado para que em nenhum momento precisem abdicar de suas carreiras. Desta forma, é fundamental que os espaços de trabalho revejam suas crenças e enxerguem para além de estereótipos, reconhecendo as diferenças sem transformá-las em desigualdades.
Eu não sei o quanto estamos perto de uma sociedade mais justa, mas sei da importância de usar espaços (como este) para refletir sobre um tema tão importante que é a relação das mulheres com o mercado de trabalho. A luta pela equidade de gênero precisa ocupar os diferentes domínios da vida, e é tarefa de todos buscar uma sociedade mais igual em direitos e possibilidades.
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