Por: Andrêus Sousa – Consultor de Carreira –
Desde o início da nossa vida profissional aprendemos que a “transição de carreira” é algo no mínimo delicado. É difícil imaginar alguém que quando ouve de um colega que ele está “em transição de carreira” não se pergunta “O que será que houve? Será que ele está bem?”. Sejam por dúvidas que a própria frase trás, pelos motivos que levaram a pessoa a transição, ou até mesmo pelo que ela quis dizer por transição de carreira, pois afinal esse processo pode significar coisas diferentes para cada profissional.
Na prática e na teoria as transições de carreira são processos naturais e que todos os profissionais vão viver ao longo de sua trajetória. Essas transições podem ocorrer em diferentes níveis e de diferentes formas, seja uma transição universidade-mercado, que ocorre após a graduação, uma transição de emprego, uma transição de empresa, uma transição de área de atuação dentro da mesma profissão, e até mesmo uma transição de profissão.
Independente da ‘modalidade’ de transição, é importante aprender a não temer o processo, e sim, entender como lidar com ele de forma mais natural e também de forma planejada quando possível.
Ao pensarmos em motivos que levam um profissional a fazer uma transição vamos de questões pessoais, desenvolvimento de novos interesses, melhores oportunidades em uma nova área, restrição ou mudanças no mercado e área de trabalho atual, vontade de atuar com novas atividades, entre outras.
Para muitos profissionais a grande dúvida é “como eu sei que devo fazer uma transição de carreira?”, e essa resposta depende de diversos fatores, mas podemos resumir eles em algumas perguntas:
· O quão motivado você se sente no seu dia a dia de trabalho?
· Quanto interesse você possui nas atividades com que trabalha?
· Quanto interesse você ainda possui na sua área de formação? Você segue curioso, e interessado em seguir estudando ela, mesmo que uma área específica?
· O quanto o seu trabalho tem suprido das suas necessidades de remuneração, reconhecimento e relacionamentos? Existe uma perspectiva melhor em outro local ou empresa?
· Ao pensar em seu futuro profissional, você identifica boas oportunidades de trabalho e de desenvolvimento?
Para responder essas perguntas você terá de tomar um tempo para olhar para si mesmo, e também para o mercado e a área que esta inserido – e esse movimento será essencial daqui para frente, caso você se decida por uma transição de carreira. Pelas perguntas podemos identificar possibilidades, pois através delas estamos avaliando questões relacionadas a seus interesses e habilidades profissionais, a sua empresa e trabalho atuais, e também ao mercado de trabalho em sua área – o que pode ajudar a responder a dúvida de que tipo de transição será necessária.
E claro, pensar em uma transição de carreira, e mais ainda realizar uma transição de carreira não é algo simples e fácil como muitos prometem. É um processo que mexe conosco em diferentes níveis, do emocional e identitário até financeiro. Então naturalmente pensar sobre esse processo vai gerar medo e insegurança, e para poder combater esses sentimentos seguem algumas dicas de como planejar a sua transição, e dessa forma tornar o processo mais consciente e concreto – pois sem essa clareza e consciência sobre a transição ela se tornará um grande martírio.
1 – Avalie o seu momento profissional atual, e o estado desejado em seu futuro profissional
Entender o seu momento profissional atual, e o que você deseja no futuro é essencial para entender o caminho que deverá ser percorrido, e também o que você está buscando através da transição. Das perguntas citadas anteriormente, a algumas outras que podem lhe ajudar a avaliar o seu momento e também o que você deseja futuramente: 1.1 – Que tipo de rotina de trabalho você tem atualmente? Qual rotina você deseja no futuro? 1.2 – Quais atividades que você realiza atualmente e que está disposto a seguir fazendo? Quais atividades você não gostaria de realizar no futuro? Que atividades gostaria de agregar ao seu trabalho? 1.3 – Que assuntos ou temas tem lhe gerado interesse? Você tem espaço para explorar eles em seu trabalho atual, ou em algum outro trabalho em sua área? 1.4 – O que você tem de retornos do trabalho atualmente (remuneração, benefícios, condições de trabalho, relacionamentos, reconhecimento, autonomia, flexibilidade, etc.) ? Quais são os retornos que você deseja ter no futuro? 1.5 – Que perspectivas você possui no seu emprego atual, e na área atual? Essas perspectivas estão de acordo com o que você deseja em seu futuro profissional e pessoal?
2 – Identifique e colete informações sobre a sua área de atuação atual e a área desejada
Após olhar para si mesmo, precisamos coletar informações sobre as possibilidades e o mundo do trabalho – afinal, será que existe uma oportunidade ou área que consegue suprir os seus interesses e vontades, ou você terá de reavaliar e abrir mão de alguns pontos?
Coletar informações sobre a área de interesse, participar de cursos e eventos, ver entrevistas com profissionais experientes e de preferência conversar com profissionais que atuam nessa área, também fomentando o seu networking na sua área de interesse, pode lhe auxiliar a entender as oportunidades e limitações que essa nova área pode apresentar.
3 – Identifique as vantagens e desvantagens das opções
Entendemos sobre a área, e sobre você, agora precisamos avaliar as opções e informações coletadas para definir o melhor caminho a ser tomado, de preferência aquele que consegue suprir mais os seus interesses e vontades.
Organizar as principais informações, criar categorias e itens de comparação entre as áreas (ex: remuneração na área x, na área y) vai facilitar o processo de comparar as áreas de forma racional e organizada – evitando impressões e vieses – e claro, se perceber que alguma informação faltou, retome a etapa anterior e busque complementar as informações.
4 – Planeje e organize o plano
Com a definição do caminho a ser tomado, você tem de planejar as etapas e o cronograma de execução desse plano. Será um processo a curto prazo, ou um processo mais longo? Você tem os recursos e habilidades para se inserir na área desejada, ou precisará desenvolver isso ao longo do tempo? Você consegue fazer projetos e pegar pequenos trabalhos na área de desejo, ou não tem essa disponibilidade? Você pode mudar para um cargo equivalente ao seu cargo atual na outra área, ou terá de ‘retroceder’ alguns passos? Financeiramente, como você está organizado e o que precisa adaptar e se preparar para viabilizar e concretizar a sua transição?
5 – Comece a execução, mas sempre com flexibilidade para revisar e atualizar o planejamento
Definidos os passos a serem realizados e a duração do processo, precisamos executar o plano. Essa é a fase mais esperada e desejada, mas nem sempre é a fase mais fácil: imprevistos acontecem, mudanças acontecem no mercado de trabalho, coisas acontecem mais rápido ou devagar do que imaginamos… E graças a isso precisamos ser flexíveis e fazer a ‘manutenção’ do plano de ação, pois ele será impactado por diversas situações e precisa ser atualizado conforme isso for acontecendo para que tenhamos ainda um planejamento frente ao que desejamos.
Como diz uma famosa frase “a vida é o que acontece enquanto estamos ocupados fazendo planos”, e por isso nossos planos não devem ser estáticos, e sim, se adaptar conforme as situações acontecem – mas sem permitir que deixemos de buscar os nossos objetivos.
Viver uma transição de carreira pode ser algo simples e rápido, ou pode ser um processo complexo e longo. Porém a grande questão é a motivação que nos levou a realizar a transição, e saber que através desse processo iremos nos aproximar de nossos objetivos pessoais e profissionais, além de aumentar a nossa motivação e satisfação com o nosso trabalho e atividades profissionais.
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